A indústria de alimentos que hoje representa quase 10% do PIB tem sofrido mudanças expressivas nos últimos anos. Em boa parte, pela busca do consumidor por alimentos mais saudáveis, orgânicos e naturais.
Se antes, o significado de alimento saudável era os que entravam na categoria diet / light, hoje a diversidade de nomenclaturas e dietas é enorme. E fácil para tornar mais complexa a relação de consumidores com marcas e profissionais de saúde. E, claro, na hora da compra também.
O que leva o cliente a escolher por uma marca no lugar da outra? Como uma marca se destaca na preferência deste consumidor?
Já deu para perceber de que o que não está nada fácil é a rotina das empresas e seus profissionais de inovação, vendas e marketing. Marcas que dominavam o mercado vêm perdendo espaço ano a ano para pequenas e médias empresas, gerando uma verdadeira revolução não só no comer, mas, especialmente, no fazer comida em todo o mundo.
A comida do futuro, que já mostra seus reflexos no agora, será resiliente pela diversidade, porque somos exploradores e buscamos novas experiências e sabores. E, como forma da preservação humana, buscamos nossos resgates.
Um bom exemplo, é o anseio pelo que é natural, do campo. Mas, com uma sociedade cada vez mais conectada e com menos tempo, quem consegue realmente manter este estilo de vida? Não precisa. As empresas já entenderam que entregar a percepção dessa experiencia é o mais importante.
Unindo a tecnologia, a praticidade e a sustentabilidade, já existe o Garden Manager, que permite você ter a sua própria horta à distância e acompanhar a sua evolução por meio da plataforma online. E, não para por aí, também há a possibilidade de ‘adotar’ sua própria galinha cujo nome você mesmo escolhe! Tudo entregue na sua casa.
Outro exemplo revolucionador, é usar a tecnologia para atender a demanda por mais alimentos de forma sustentável. A startup chilena NotCo, que recebeu investimento do fundador e CEO da Amazon, por exemplo, acaba de chegar ao Brasil estreando sua maionese vegana – NotMayo – desenvolvida a partir de um algoritmo de inteligência artificial apelidado de Giuseppe.
A empresa vem criando uma série de produtos que “imitam” o sabor, textura e aroma de alimentos animais a partir de plantas. O algoritmo estuda a composição de mais de 35 mil plantas comestíveis disponíveis na natureza com a composição dos alimentos originais, entregando um produto similar com alto valor nutricional. Ah, e sem matéria-prima animal ou testes em animais, tudo no laboratório.
Este é um ponto importante, pelo menos, 30 milhões de pessoas no Brasil se declaram vegetarianos e dos que não são, uma boa parte, tem buscado reduzir o consumo; 73% dos consumidores estão mudando hábitos de consumo por causa do impacto ambiental e 42% dos consumidores afirmam que gostariam de marcas que se preocupam com o meio ambiente. Ou seja, não dá para ignorar esses números. Até porque virou cool adotar um comportamento eco friendly.
Isso porque comer não é um ato apenas biológico, mas envolve fatores emocionais e sociais também. O comer e nutrir passa por uma questão ideológica.
Valores importante para os millenials como trabalho significativo e autorrealização, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e flexibilidade, colaboração e conexão, diversidade, experiência e autenticidade estão incitando o crescimento e grandes mudanças na indústria de bem-estar, que inclui o segmento de alimentação e muitas outras indústrias. Essa geração já representa a 31% da população mundial.
Mas, não basta a empresa investir em inovação, precisa conhecer o que espera esse consumidor e, o mais importante, comunicar estes atributos para ele. E aqui, reside mais um desafio, entre os diferentes posicionamentos de saudabilidade, qual é a sua entrega? E o seu produto atende de fato o que se propõe? Alerta importantíssimo: não basta falar ou parecer inovador, saudável, saboroso e prático, o produto e, especialmente, a marca precisa entregar tudo isso. Desafiador? Pergunta para os profissionais que estão neste mercado.
A boa notícia é que há muitas iniciativas aqui e fora. A indústria de alimentos está gastando milhões em pesquisa e desenvolvimento. Talvez tudo isso faça parte das nossas vidas e, de fato, teremos que conviver com este novo mundo. Porém, o importante é desenvolver capacidades e novas habilidades para continuar no resgate do simples e da nossa ancestralidade.
Por fim, acredito que a Revolução dos Alimentos ou a evolução dela vai trazer coisas que esquecemos, como comer mais frutas e legumes, desperdiçar menos, estar mais próximo do campo, cozinhar mais – talvez em espaços cada vez mais tech, prevenir doenças e cuidarmos mais da saúde e do corpo. O futuro já chegou. Bem-vindos à Comida 4.0.
Por Cynthia Antonaccio
CEO e Fundadora Equilibrium Latam