No último artigo me questionaram sobre: “um dos empecilhos maiores para a disrupção é a cultura corporativa”.
Sabemos que em uma multinacional ou em uma empresa nacional de grande porte, geralmente a frase de Peter Drucker faz muito sentido: “a cultura come a estratégia de café da manhã”.
Se você gosta do seu emprego, mas adoraria que sua empresa adotasse uma inovação mais disruptiva, comece a agir como as startups e mude a cultura começando pela sua equipe.
Não vai ser uma missão fácil. Mas que tal começar a mudança da empresa pela sua própria postura individual, no estilo “Seja a mudança que você quer ver no mundo” , de Gandhi e começar a influenciar …
E por isso eu convidei uma profissional especializada em Cultura e Liderança, a Laura Widal para participar deste artigo que irá desta vez na forma de entrevista:
- Qual é a diferença entre uma startup e uma grande empresa?
Eu vou trazer uma definição de Steve Blank, que é um dos gurus do empreendedorismo: “Startup é uma organização temporária projetada para buscar por um modelo de negócios escalável e repetível que atua num ambiente de extrema incerteza”.
Uma grande empresa já está em operação, com seu modelo de negócios validado. Então a primeira diferença é que a startup é temporária e a empresa em operação é “permanente”. A segunda grande diferença é que a startup não tem nada a perder e tudo a provar! Ou seja, ela ainda precisa achar um modelo de negócios, mercado, faturamento, clientes, etc. A empresa em operação muitas vezes já se provou, conquistou um espaço no mercado e muitas vezes fica com medo de arriscar e “colocar isso tudo a perder”.
Só para deixar mais divertido, podemos concluir que o Google e o Facebook não são startups, mas conseguiram preservar a Cultura de Startup.
- Na sua visão, quais são as principais características de uma Startup que influenciam sua cultura?
Gosto muito de falar em 5 características fundamentais que encontramos em todas as startups:
- Foco no cliente: As startups são sempre criadas para resolver um problema real de alguém. Ela nasce a partir de uma “dor” ou necessidade que um grupo de pessoas tenha, e que ela se propõe a trazer a solução. Assim, o cliente está sempre no centro, ele é a razão de tudo o que é feito naquele negócio;
- Colaboração e baixa hierarquia: Geralmente os times começam muito enxutos e todo mundo faz de tudo um pouco. Não há espaço para muita formalidade. Ouvi uma frase que adorei e reflete este ponto: um grupo de pessoas que não gosta de dar ordens e adora desobedecer regras. A boa ideia pode vir de qualquer pessoa da equipe, sempre com uma dose de “rebeldia” para desafiar o status quo;
- Agilidade: Está muito ligado ao conceito do MVP (Produto Mínimo Viável, em português), que é fazer rapidamente um produto que possa ser testado no mercado, de forma rápida para validar hipóteses. Só depois de vencida esta etapa é que se investe tempo em um desenvolvimento mais robusto. A agilidade também está presente na forma de trabalho, com a metodologia ágil por exemplo;
- Escala: Como diz a definição de Steve Blank, os modelos de negócios são escaláveis e replicáveis, e geralmente busca-se um produto que possa ser escalado globalmente;
- GSD (Get Shit Done): Na prática, é uma cultura sem mi-mi-mi, em que as pessoas fazem o que precisar feito.
- Como levar elementos da cultura de startup para as grandes empresas?
É um processo de desapego. Precisamos ter coragem de abrir mão de velhas máximas corporativas, como status, informação como fonte de poder, hierarquia, projetos longos e caros. Não é jargão! Precisamos, na prática, aprender a desaprender. Esquecer muita coisa que nos trouxe até aqui, mesmo aquelas que nos garantiram sucesso, e aprender novos comportamentos. A Singularity University fala de 3 habilidades do futuro: empatia, criatividade e coragem. A questão é que se a gente fizer uma auto-avaliação bem sincera, chegaremos à conclusão que o modelo tradicional de fazer negócios valoriza pouco essas habilidades, que tendem estar adormecidas em nós.
- Por onde começar uma transformação cultural?
Por você! Não dá para esperar o seu chefe ser um exemplo dos novos comportamentos e cultura para que então você passe a agir dessa nova forma. Nem mesmo esperar o ambiente perfeitamente propício para isso. Estude, leia sobre o assunto, faça benchmarks com empresas que já adotam o modelo e encontre aliados, pessoas que também querem fazer a virada e fazer a diferença no futuro. Apoiem-se e tragam práticas para seu dia a dia. Você sairá da zona de conforto, vai acertar e errar, mas vai aprender muito!
Se quiser estruturar mesmo uma mudança cultural há dois caminhos possíveis: um deles é criar um Labs de Inovação separado do dia a dia da empresa, que seja livre das amarras corporativas e possa pouco a pouco influenciar a liderança. A segunda forma é estruturar um Projeto de Transformação Cultural, com etapas de diagnóstico da cultura atual, definição da cultura desejada e plano de ação.
Me despeço pontuando 5 comportamentos de empreendedores que admiro e que estão transformando o mundo para te ajudar a mudar essa questão de “cultura”:
- Vulnerabilidade – jogue-se e arrisque-se se você quer mudar. Como a profissional Laura Widal me falou outro dia: “Feito é melhor que perfeito, pelo menos para começar”;
- Coragem para errar, levantar e recomeçar;
- Agilidade para sair do planejamento e ir para a ação;
- Humanidade para olhar os anseios do ser humano como foco para a inovação;
- Comunicação integrada entre os diferentes setores da empresa. Steve Jobs mandou colocar o banheiro distante para as pessoas se esbarrarem pelos corredores. O que você poderia fazer na sua empresa?
Precisamos melhorar a comunicação do P&D com o Marketing e demais áreas estratégicas como as de execução. Nas startups todo mundo faz tudo. A comunicação é viva! E simples!
Por Cynthia Antonaccio para Food Ingredients South America
CEO da Equilibrium