A construção das relações sobre o ato de comer ainda gera dicotomias e
abrangem muitas questões, principalmente quando compreendemos o que, de fato, nós
queremos consumir. Assim, Marle Alvarenga, nutricionista e idealizadora do Instituto
Nutrição Comportamental, deu inicio a segunda palestra do 9º BHB Food, colocando
que, por conta da “complexidade dos nossos comedores”, é necessário buscar espaços
de nutrição ampliada para conhecer os gostos e necessidades dos consumidores.
Marle ressaltou que a nutrição é uma ciência moderna que tem grandes avanços
no Brasil, com um vasto cenário de pesquisas e teorias que englobam temas
diferenciados sobre alimentação. Entretanto, ainda existe uma indagação sobre as
formas de se alimentar. Por que as pessoas comem o que comem?
A idealizadora do Instituto NC afirma que essa questão ainda encontra uma alta
complexidade devido aos múltiplos fatores que estão envolvidos no ato de comer. E eles
serão diferenciados por conta das gerações que convergem. Existem muitas gerações
coexistindo, assim, torna-se mais difícil entender essa indagação. Para ilustrar um
caminho sobre como é possível compreender as razões pelas quais comemos o que
comemos, Marle aponta para a Ciência do Comportamento, que consistem em três
pilares: Filogênese, Ontogênese e Cultura.
“UMA MANEIRA SIMPLIFICADA DE PENSAR QUE NÓS FAZEMOS O QUE
FAZEMOS COMEÇA PELOS ASPECTOS FILOGENÉTICOS, QUE SÃO AQUELES
QUE DIZEM RESPEITO AO FATO DE SERMOS HUMANOS. ENTÃO A GENTE
NASCE COM A HABILIDADE DE MAMAR SEM MESMO NINGUÉM TER NOS
ENSINADO, PORQUE ISSO É TÍPICO DO SER HUMANO.”
Assim, a soma dos fatores naturais, de aprendizado, culturais e genéticos
determinam as vontades e necessidades de cada ser humano. A escolha do alimento que
levamos para a nossa mesa perpassa muitos processos, sejam fatores econômicos,
sociais e biológicos. As marcas precisam perceber as formas de acesso dessa
alimentação do comedor/consumidor.
Muitas vezes, esse processo está ligado as influências sociais de cada pessoa.
Seja a partir da modelação, observando outras pessoas comerem, por normas sociais,
que nos levam a acreditar naquilo que os outros dizem fazer, por comparação social,
segmentando o ato de comer por classes sociais, por facilitação social, quanto mais
acompanhado, mais me alimento ou por gerenciamento de impressões, quando eu quero
impressionar através do meu prato. A comida passa a representar um lifestyle, onde
“não é só uma questão do que eu gosto aqui na minha boca e de questões biológicas, é
uma questão do que eu traduzo sobre isso”.
Essa identificação com a comida é definida através do palavrão
biopsicossociocultural, que reúne suas emoções, situações e contexto sociocultural
através do ato de comer. As escolhas alimentares fazem parte de visões concretas, que
não são passivas, com cargas simbólicas e que compõem a identidade do comedor.
Comer faz parte da nossa comunicação e da nossa relação com a sociedade, a cultura e
com o mundo.
Com esse poder de escolha em um campo que ultrapassa os fatores biológicos e
sociais, as marcas são desafiadas a expandir seus conhecimentos e atuações para
identificar as preferências, hábitos, afetos, valores e reconhecimento dos consumidores
com os produtos.
Marle salienta que as empresas necessitam se perguntar em “como o comedor
precisa ser pensado sobre a comida?” Para conseguir atender suas necessidades e,
principalmente, colocar em prática para os consumidores que “você é o que come”. A
construção de identidades, de gostos e hábitos passam pelo o que a comida representa
para você!